::..Pensamentos 2 ..::

"Sinto falta dessa paz que encontrei no seu sorriso"

SJ

Meu coração está apertado, sentindo falta de alguma coisa como se estivesse lhe faltando um pedaço. Porque estou sentindo essa saudade absurda da Bruna? Quando fui ao encontro da fraternidade eu procurava apenas uma pessoa menos desconhecida para poder ficar próxima e conversar, comentar e falar minha opinião sobre as coisas...acho que acabei encontrando mais do que isso. Ela precisava de muito mais do que meia dúzia de palavras engraçadas ou comentários adolescentes. Ela precisava de alguém que a ouvisse e acalentasse, uma pessoa que a pudesse resgatar do pesadelo. Como uma pessoa boa pode sofrer tanto com fantasmas do passado? 

Estou feliz por tê-la ajudado, mas será que ela também está sentindo saudade? Acho que acabei deixando uma parte do meu coração com ela, mas será que o dela também está aqui? Tomara que não doa tanto, que eu não sofra tanto, que eu não me engane tanto.

Bom, já está ficando tarde e amanhã tenho prova na faculdade no primeiro tempo. Sonho acabado, a vida real me espera.

::.. Pensamentos ..::

Muitas  vezes o inacreditável está bem à nossa frente. O que é tão incrível, na verdade, está escondido na simplicidade dos menores gestos...

Bruna ZZZzzz...


Eu a conhecia, aliás achava que a conhecia. Sempre me chamou a atenção o jeitinho dela, a maneira delicada com que se dedica a cada detalhe em todas as suas tarefas, o modo em que se portava...para mim, era apenas uma pessoa agradável, gentil e só.


Quando me retirei para o encontro da fraternidade algo me dizia que sairia diferente de lá, mas imaginei que essa mudança seria espiritual e foi mais do que isso. Encontrei alguém que me deu a mão, que me socorreu do meu pesadelo, a única pessoa no universo inteiro que foi capaz de ouvir o que eu tinha pra dizer, que não me julgou, viu que eu realmente precisava de acalento, que eu não era uma máquina e sim um ser humano repleto de fraquezas.


Meu coração desesperadamente tenta explicar para minha mente como uma pessoa consegue mudar completamente sua visão sobre o mundo, seus conceitos, valores, princípios em apenas três dias. Mal cheguei, ainda não desfiz minhas malas e estou pensando se vamos nos ver de novo, em como eu sofreria se não a visse mais.


Por alguma razão, Luna entrou na minha vida e por essa mesma razão ela não sai do meu pensamento, será que ela também está pensando em mim? Será que também já está com essa saudade precoce? Ah não! Tenho que deixar de ser boba, há essa hora ela está cercada de amigos e já nem se lembra mais de mim... DROGA!

Fim de semana foi um paraíso! O encontro da fraternidade foi surpreendente. Me senti em outro mundo, mas agora a vida real me chama. Não posso me esquecer que sou apenas uma menina de dezessete anos, estudante...Eita! Vou desfazer as malas e terminar tudo bem rápido, pois amanhã a vida real retorna, tenho aula pela manhã. 

Será que ela não está sentindo nem um pouquinho de saudade?!

::.. Despedida ?! ..::

Às vezes esquecemos que somos humanos e o calor das nossas emoções põe nosso corpo à prova...

As palestras continuaram corriqueiramente. Luna, apesar da noite insone, conseguia atentar a cada detalhe das palavras que foram ditas naquele cenário de tamanha seriedade. Bruna por sua vez, a mais frágil fisicamente, não conseguia dominar a fraqueza de seu corpo magricela.

A cada minuto passado, todos começaram a se incomodar com a feição de Bruna. Ela estava exausta pela noite anterior de modo que os membros da Fraternidade tomaram como ofensa e descaso o fato de ela estar totalmente desatenta e debruçada sobre os bancos. Deste modo, Flora pediu que a magricela ficasse de pé diante de todos afim de recobrar a atenção dela.

Para Bruna era apenas um esforço físico manter seu corpo de pé, para os outros, uma cena deplorável e humilhante e para Luna, uma culpa sem tamanho por ter sua participação naquela exibição desnecessária. Luna então ficou de pé diante de todos ao lado de sua fiel companheira. Aquelas pessoas que estavam confusas se confundiam mais ainda com aquela situação, mas se comoveram com a cumplicidade das duas.  Os olhos de Luna eram ameaçadores e fez com que todos os outros membros olhassem com respeito a sua protegida.

Dada a continuidade com celebrações, palestras e meditações......

Chegou a hora da despedida.....

O encontro chegou ao fim e todos com malas prontas partiram cada qual às suas vidas.

::.. Bom Dia !!! ..::

“A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.”

V.H.

A luz do sol ofuscava os olhos de Bruna trazendo-a para a realidade, a mais doce realidade com aparência de um lindo sonho. Assim como o sol adentrava seu leito rompendo todo e qualquer obstáculo, os olhos de Luna encontraram os seus e adentraram seu coração.

 As almas se reconheceram neste mesmo instante. Uma erupção de emoções se formou com tanta força que o chão abriu sob seus pés, e ambas foram transportadas para uma dimensão que até então não havia sido explorada por nenhum ser em toda a via Láctea.

A fusão de olhares fez com que uma se transportasse para o corpo da outra onde os dois corpos ainda eram os mesmos. Uma equação que a física não saberia explicar. O magnetismo foi tamanho que elas não perceberam que estavam se abraçando com força e emoção - emoção demais para quem há pouco eram apenas conhecidas.

Entusiasmadas demais para notar que todos a sua volta estavam boquiabertos tentando entender o que se passavam ali, elas continuavam envolvidas naquele enlace até o momento em que perceberam ser o centro das atenções.Ambas não tinham a menor noção de quanto tempo havia se passado durante aquele longo abraço.

Um “pigarrear” de misericórdia foi emitido por Flora, a senhora que zelava pela ordem do evento, e todos seguiram para o café da manhã antes de mais uma palestra...

::..O acalento depois do pesadelo..::

"Você marcou presença onde não há valor..." R.S

A saudade não me martirizou tanto quanto eu imaginava, pois neste dia eu aprendi que sua presença é muito mais do que posso ver...

  

       Envoltas na escuridão, ambas ainda se remexiam em seus ninhos a fim de procurar a melhor maneira de se acomodar e resgatar o sono que há tempos não batia à porta da dupla por motivos individuais.

    Luna estava excitada com tantas novidades, era estranho pra ela sair da muralha enérgica constituída de amizade oportunista que nem ela mesma saberia descrever o que realmente significava aquele vinculo e porque enfatizava tanto aquelas laços ao ponto de se isolar do restante do mundo e de si mesma.

  Bruna por sua vez, não conseguia se acostumar com o fato de dividir, não conseguia viver em sociedade, a presença de qualquer outro ser seria encarada como uma grande invasão. Porém, a presença de Luna era o acalento tanto esperado desde o seu nascimento.

   Bruna conseguiu fechar os olhos, mas teve seu sono perturbado. Um sonho ruim, uma mistura de realidade e sonho, a pior imagem já vista por ela. Bruna se contorcia de dor, uma dor que vinha da sua alma, algo que lhe destroçava o coração, a morte parecia muito próxima tamanha era sua agonia. Mas uma luz, uma pequena fresta no fim do abismo, uma mão protetora lhe puxou, um choque de realidade levou Bruna de volta ao aposento, no ninho ao lado, estava acordada e uma armadura lhe impermeabilizou de todos os perigos. Viu-se nos braços de Luna

    Bruna ainda assustada compartilhou pela primeira vez as experiências trágicas de sua vida, a cada detalhe, Luna sentia a dor de sua companheira, de modo que conseguia entender o motivo desse comportamento tão peculiar.

   Com carícias inesperadas, a menina de olhos tristes e pesadelos calorosos adormecera em seu manto protetor.

::..Tudo começa a fazer sentido..::

"Fairy lady, who stands on the walls

Life is short and wait is long.." S.

          Quando penso que tudo não passa de mera coincidência, um magnetismo sobrenatural me leva ao encontro dela, não importam as circunstâncias, estamos pisando sempre no mesmo terreno, sempre no caminho uma da outra...

  Enquanto Luna e as demais companheiras de aposento ainda tocavam suas malas ao chão, Bruna já havia organizado toda a sua bagagem, com todos os cuidados e detalhes necessários.

          Neste primeiro momento, a prioridade seria a instalação de todos os irmãos, pois a noite havia avançado e em pouco tempo a bela lua cheia que protagonizava todo o espetáculo natural daria lugar à aurora

        A divisão entre os irmãos fazia-se necessária apenas no momento em que todos se recolhessem. A divisão seria apenas entre os aposentos, um feminino e outro masculino

       O cenário era de imensa elegância, nem mesmo a nobreza teria tamanho privilégio: o assoalho rangia, havia teias de aranha em cada canto daquele lugar, os morcegos reinavam soberanos em seu território. Alguns passos adiante os irmãos se admiravam, uma mistura de pavor e curiosidade ao ver os grilhões, correntes e chicotes. No canto da sala via-se uma cadeira de ferro que em seus braços prendiam dois grilhões, o que lembrava uma cadeira elétrica. A fragilidade da antiga estrutura impedia que fizessem um movimento mais brusco, deixando uma penumbra ansiosa e temerosa no ar sempre que as paredes estremeciam. Bruna ficou fascinada quando se deparou com uma passagem secreta que levava até o templo sagrado.

       Luna observava atenta aquela menina, a única que ao invés de se apavorar como as demais, estava cada vez mais encantada e curiosa. Para Luna, talvez a visão que Bruna tem sobre tudo era a única no mundo todo.

       A noite avançava com mais rapidez do que se esperava. Os irmãos não perceberam que já se passava da quarta hora, pois estavam vislumbrados com todas aquelas novidades

      Os homens adultos conduziram os meninos ao aposento masculino, assim como as senhoras fizeram com as meninas

      A simplicidade era um requisito máximo daquele ambiente. Os quartos eram apenas um espaço onde cada um construía seu ninho com o que puderam levar. Então, todos se acomodaram no chão tomando todo o espaço, com apenas o necessário para separar o corpo do assoalho frio e gasto.

     Bruna, logo de imediato percebeu o hábito que marca a principal característica de Luna:

      Luna deixou para última hora a organização do seu ninho. Todo o assoalho fora ocupado e não havia lugar para que seu ninho fosse construído, quando olhou melhor viu que havia uma fenda bem no canto do cômodo e, então sua cama foi feita, quente e acolhedora, espaço curto, muito próximo ao calor do corpo de Bruna, sentiu seu hálito quente em sua nuca e uma estranha sensação lhe percorreu pelas vértebras. As luzes se apagaram...

  

::..O cerco começa a se fechar..::

"São teus olhos, a luz de mil estrelas...." S.J

Luna, como sempre audaciosa e precipitada, não se deteve e se aproximou de Bruna. A alegria de Luna transpareceu de modo que foi perceptível a todos as feições de seu rosto se moldando a cada sensação de nem mesmo a própria saberia descrever.

    Bruna por sua vez foi receptiva e gentil o suficiente para que Luna se encantasse logo a primeira vista, mas Bruna trazia uma sombra sobre seus olhos e apenas Luna conseguia ver o brilho. Aos olhos de todos os olhos de Bruna eram opacos, sem vida e sem cor onde transparecia uma dor muito grande e contagiosa.Via-se em suas expressões que Bruna é um templo de emoções e mistérios, o que deixava Luna cada vez mais interessada em desvendar cada milímetro de seus sentimentos....

    Seguiram para receber a benção enquanto ouviam outros irmãos fazendo piadas com seus nomes, que até o momento, as duas não haviam percebido que realmente eram parecidos. Será só coincidência? Ah! Deve ser...